
SEM MEDO DE VOAR
Era uma vez uma mulher leve. Tão leve por dentro que, mesmo sem saber, já tinha asas invisíveis. Certo dia, subindo uma escada, num momento de pura alegria, ela voou. Não foi um voo com vento nem paisagem. Foi um voo da alma:
ela se viu de cima, vendo a si mesma como se fosse duas — a que estava ali e a que flutuava.
Por um segundo, tudo era liberdade. Mas logo a mente, programada desde a infância, gritou:
“Você vai sumir! Vai desaparecer! Vai enlouquecer!”
E então o céu se fechou.
Nos anos seguintes, sempre que algo desagradável acontecia, ela sentia a ameaça do voo voltar. Como se a alma fosse escapar outra vez. Como se fosse perder o controle e deixar de ser "ela". As pessoas ao redor não entendiam. Chamavam de imaginação, exagero, fantasia. Mas ela sabia: algo muito real havia acontecido.
Passaram-se os anos… E um dia, com coragem e amor, ela voltou àquela escada, em sua imaginação. Encontrou aquela parte de si que havia voado — e que só queria mostrar que a vida é mais do que chão.
E ela disse àquela parte:
“Eu não tenho mais medo de você. Você é minha alma livre. Agora podemos caminhar juntas. Corpo e alma, lado a lado.”
Desde então, ela ainda sente o vento às vezes, mas não teme mais. Porque aprendeu que voar não é sumir. Voar é lembrar de quem se é por inteiro.