
VÉU DOURADO
Um dia eu ouvi uma história sagrada
de um homem bom, de alma elevada.
Disseram que foi traído e ferido,
e eu, tão pequena, senti-me perdido.
Achei que o culpado era um povo inteiro,
como quem chora e culpa o estrangeiro.
Na mente da infância, tudo é mais claro:
quem machuca o amor… deve ser amargo.
Guardei essa ideia num canto escondido,
como quem guarda um luto antigo.
E mesmo sem ódio, cresci com medo
de um nome, um rosto, um povo inteiro.
Ali eu entendi — o mal é humano,
não tem bandeira, templo ou plano.
Não há quem mereça tamanha agonia,
nem mesmo quem feriu a minha fantasia.
Confusa, chorei. Sem saber de que lado.
O oprimido virou algo pesado.
Minha alma não sabia a quem proteger,
só sabia sentir, só sabia doer.
Hoje, eu solto essa teia de dor,
transformo em fio de compaixão e amor.
Não carrego mais tristeza nem rótulo alheio.
Só a certeza: a luz é o meu meio.
Se forem amigos, irmãos ou ninguém,
quero apenas ver o bem que eles têm.
E quando a dor gritar em qualquer lugar,
meu coração vai sempre escutar.