
QUANDO A ALMA FALA
Ela não disse palavra, mas seu olhar era um abrigo.
Tão morena, serena, sorriu como quem já era amigo.
Trazia na palma da mão duas pequenas doçuras.
Não pediu nada em troca. Ofereceu ternura.
Marcas no rosto? Sim, como cicatrizes de quem viveu.
Mas era exatamente isso que a fazia tão eu.
Eu, que buscava perdão, recebi aceitação.
Que temia julgamentos, ganhei compreensão.
Ela não queria me mudar. Só queria me lembrar:
Eu sou feita de afeto, não do que tentaram me ensinar.
Peguei os bombons. Um tinha gosto de infância,
o outro, de liberdade. Comi devagar...
e voltei pra mim com suavidade.
Ela é minha memória esquecida,
minha alma não partida.
A face que escondi por medo,
a doçura que venceu o superego.
Ela é minha.
Ela sou eu.
E hoje...
sou doce também.