
ETARISMO: INVISIBILIDADE E RESISTÊNCIA
Vivemos em uma sociedade que venera a juventude como um totem de valor, enquanto descarta e silencia quem carrega nos ombros a sabedoria do tempo. Mulheres mais velhas, especialmente viúvas, solteiras por escolha ou mães solo, enfrentam não apenas a invisibilidade, mas também a violência simbólica e concreta de uma cultura que as desumaniza.
Esse fenômeno tem nome: etarismo — o preconceito e a discriminação baseados na idade. Quando esse preconceito se soma à misoginia estrutural, temos um campo fértil para abusos de todos os tipos: psicológicos, sociais, patrimoniais, físicos e até institucionais. E as vítimas, em sua maioria, são mulheres.
A mulher que envelhece é vista como descartável.
Ao contrário dos homens, que frequentemente ganham status social com a idade, mulheres são empurradas para as margens. São tratadas como se tivessem perdido o valor, a sensualidade, a capacidade de decidir, de liderar, de opinar. Em muitos contextos, a mulher que envelhece é automaticamente vista como demente, frágil, carente ou disponível para qualquer tipo de abuso — inclusive emocional e financeiro.
Muitas vezes, essa mulher já criou filhos sozinha, cuidou de pais doentes, enfrentou lutos e se reconstruiu várias vezes. Mesmo assim, a sociedade insiste em tratá-la como uma figura dispensável. Uma espécie de “Geni” contemporânea — aquela da canção de Chico Buarque, que serve como depósito de todo tipo de rejeição e projeção cruel. E o mais perverso: quanto mais isolada essa mulher estiver — sem filhos homens, sem marido, sem "padrinho" social —, mais vulnerável se torna.